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Vivi, suas considerações sobre os motivos do projeto Anotações não ter pegado são preciosas. Em boa parte, eu concordo, mas não totalmente.
Por que mais não pegou?
Propaganda é a alma do negócio, e é um recurso escasso. Aí não há abundância. Ao contrário, estamos no campo da economia da atenção, e ATENÇÃO É ESCASSA!. O projeto Anotações foi pouco divulgado. Os recursos para chamar a atenção das pessoas são limitados: a home, as mensagens a todos, e estão centralizados na pessoa do Augusto, a quem todos os demais podem ter acesso no que depende do Augusto, mas não no que depende de cada um, pois cada um se comporta de acordo com o histórico da relação que tem com cada um dos demais. Talvez 100 pessoas vencessem essa barreira, talvez 150 (para coincidir com o número de Dunbar, pois tem algo a ver). Os demais 4850 da E=R não venceriam. Na governança da Wikipedia as proporções são bem diferentes, e em parte porque a granularidade da Wikipedia permite distribuir poder de forma mais ampla. Repare que eu usei o termo granularidade, não por acaso. É uma propriedade dos wikis.
Outro motivo: liderança. Temos claramente na E=R, como em qualquer outra organização humana, pessoas que têm maior influência. Claro. Isso está nas teorias mais variadas sobre distribuições assimétricas: Pareto, 90-9-1 etc. Se uma meia dúzia de pessoas tivesse comprado a ideia, acreditado e trocado telefonemas num fim de semana, o projeto talvez tivesse pegado e talvez tivesse envolvido algumas dezenas. Ou seja, wiki não pegou porque não contou com essa massa crítica inicial. O que não significa que não pegarã em outros momentos. Dependendo de meia dúzia, ele pegará ou não.
Mais um motivo, relacionado ao anterior: a topologia de nossa rede de pessoas (talvez esse termo facilite mais do que o termo asséptico "rede social". O Régis, que foi o idealizador e empreendedor do projeto Anotações, não tinha ainda proximidade com o Augusto, que o levasse a fazer lobby para o Augusto colocar em destaque na home page e em outros lugares bem visíveis.
Nossas distâncias sociais são muito variadas, dependendo de como e onde nos conhecemos, sobre o que já conversamos etc. Não somos formigas nem gaivotas. Veja que esse tipo de consciência, e uma visão de nossa rede que uma ARS poderia proporcionar, seriam vitais para empoderamento das pessoas na rede, ou seja, para a rede se tornar mais distribuída do que centralizada.
Aí vem uma outra pergunta, que considero fundamental: COMO EMPODERAR A REDE?
E já me permito um início de resposta, com um conceito que me veio à memória de leituras que fiz há quase 30 anos: a teoria do poder de soma não-zero. O poder de um sistema humano depende dos poderes individuais, o que confronta a noção vulgar de poder de soma zero (noção segundo a qual o seu poder aumenta na medida em que o meu diminui, pois o bolo de poder não aumenta). É uma noção amplamente aceita no imaginário coletivo, e em geral falsa. Lembro do nome de dois dos autores que me fizeram enxergar isso, quando estudei auto-gestão nos kibbutzim israelenses: Tannenbaum e Eric Abrahamsson.
Achei agora: Tannenbaum, A., and R.L. Kahn, “Organizational Control Structure,” Human Relations, 10, 1957, 127-140.
Trata-se, se queremos uma rede social forte, de termos um projeto de criação de poder.
Se essas reflexões estão confusas, é porque são 01:15 e eu estou escrevendo compulsivamente (já vou parar).
Para concluir: de forma análoga, numa empresa em rede como o Google, o "projeto Anotações da CIRS" talvez tivesse poucas chances de atravessar a barreira da mortalidade infantil, se o seu propositor tivesse distância social grande daqueles que decidem a alocação de recursos. E um maravilhoso produto da Google não teria nascido.
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